Bismilahir Rahmani Rahim (Em nome de Deus, o Beneficente e Misericordioso)
A primeira palavra do Alcorão revelada ao Profeta Muhammad SAWS, foi IKRAA (LEIA). Daí foi instituído ao muçulmano e a muçulmana, a obrigação de buscarem o conhecimento até o final de suas vidas. Embora as histórias do oriente nos fascine, pouco se sabe da história de certas comunidade e de como elas surgiram, sua história e seu idioma.
Dia 23 de setembro de 2017 o Presidente da Associação Islâmica da Cidade do Porto em Portugal, foi convidado para falar acerca da língua bengali (Idioma oficial de Bangladesh) e do dia Internacional da Língua Materna, que é comemorado em todo o mundo no dia 21 de Fevereiro de cada ano. O que tem a ver a língua bengali com a referida comemoração mundial? Leiam a explanação do nosso irmão..
"Senhoras e Senhores,
Seguindo a tradição islâmica, cumprimento-vos com “Assalamo Aleikum” – Que a Paz de Deus esteja convosco. Esta é a forma dos muçulmanos se cumprimentarem. Usamos e “abusamos” desta saudação! Em Portugal, esta manifestação de harmonia foi desvirtuada, dando a origem à palavra “Salamaleque”, que literalmente significa mesura exagerada ou saudação interesseira.
Agradeço o convite da Senhora Dra. Mónica Guerreiro, directora Municipal de Cultura e Ciência da Câmara Municipal do Porto, para falar acerca da língua materna do Bangladesh.
A exemplo dos asiáticos, a maior parte dos membros das Comunidades do Bangladesh espalhados pelo mundo, têm uma grande inclinação pelo comércio. Na cidade do Porto, aqui na Rua Chã e nos arredores, está concentrada a maior parte dos seus estabelecimentos comerciais e residências.
Enquadrado na referida concentração e na vontade de preservar a língua materna na cidade do Porto, resolveram colocar aqui um memorial para se recordarem dos estudantes e activistas mártires que foram assassinados por se manifestarem pacificamente, reivindicando que a língua bengali fosse considerada como língua nacional.
Para além da língua bengali, vamos também falar da história do Bangladesh.
O Bangladesh está praticamente rodeado pela Índia e com uma pequena fronteira com Myanmar. Encontra-se situado numa zona conhecida por Bengala. A maior parte do País é composta por planícies baixas, fertilizadas pelas enchentes dos rios e muitas vezes sujeitas à destruição das aldeias próximas dos cursos das águas.
O Islão foi introduzido na região de Bangala no século doze por comerciantes e missionários árabes. A região passou a ser governada pelo Sultões de Bengala e depois no século quinze pelo império mongol. A capital passou a ser chamada de Jahangir, em honra do imperador mongol com esse nome. Foi considerada na altura, uma das regiões mais ricas do subcontinente indiano. A partir de 1537, os Portugueses instalaram postos comerciais em Chittagong e o imperador mongol Akbar autorizou-os para aí se fixarem e construírem igrejas.
Mais tarde, a partir de 1858, Bengala e toda a região da Índia passaram a fazer parte do Império Britânico.
No início da ocupação inglesa, soldados nativos hindus e muçulmanos, os chamados sipais, unidos pela mesma causa, revoltaram-se contra o exército da índia britânica e o norte mergulhou numa insurreição.
A Índia e a zona de Bengala sofreram depois diversas calamidades e uma sequência de fomes, que dizimou milhões de pessoas. A transformação das suas terras em latifúndios estrangeiros, a exportação de produtos básicos e os diversos massacres que se seguiram, contribuíram para a rebelião contra a ocupação britânica.
Em 1947, o colapso do império britânico na índia e os sanguentos conflitos entre muçulmanos e hindus, provocaram a divisão da região em duas partes, a Índia, maioritariamente hindu e o Paquistão, quase na sua totalidade muçulmana. Linguisticamente, o Paquistão era formado por duas partes, o lado Ocidental e o lado Oriental. Apesar de serem muçulmanos, tinham ideais políticos e línguas diferentes. O Paquistão ocidental com a língua Urdu e a parte oriental com a língua Bengali. O Governo Central do Paquistão instituiu o Urdu, como língua oficial do país, o que veio agravar ainda mais os conflitos.
Podemos considerar que a imposição da língua urdu aos falantes da língua bengali, acelerou a vontade dos paquistaneses orientais, para uma identidade própria não só linguística, mas também em termos de soberania.
Entre 1950 e 1952, os residentes na parte oriental do Paquistão, manifestaram-se contra o governo central ocidental, com o propósito de criarem uma identidade nacional do povo de bengala oriental e do reconhecimento oficial da língua bengali.
Um ciclone devastou a costa do Paquistão oriental, causando milhares de mortos. A resposta do governo central do Paquistão ocidental não foi a mais eficaz, deixando a população do lado oriental sem apoios e descontente, acelerando assim as animosidades entre os dois lados.
O surgimento em 1952 do movimento pela língua bengali foi um factor determinante para um atrito com o governo central. A língua Bengali tornou-se um símbolo importante na luta pela autodeterminação e independência. No dia 21 de Fevereiro de 1952 estudantes activistas foram mortos quando se manifestavam reivindicando que a língua bengali fosse considerada como língua oficial ancestral do Paquistão.
Provavelmente será o único país cujos nacionais foram assassinados por defenderem a sua língua materna.
Estes trágicos acontecimentos influenciaram a Unesco que decidiu considerar o 21 de Fevereiro como Dia Internacional da Língua – Mãe, formalmente reconhecida pelas Nações Unidas, para proteger todas as línguas faladas no mundo. A data é comemorada também em Portugal, em defesa e enaltecimento da nossa língua materna, a língua de Camões, esta nossa língua doce e agradável, como alguém já a chamou, falada por milhões, não só de portugueses, como também por outros povos além-mar.
No Paquistão oriental, a grande insatisfação contra as políticas económicas e sociais, a imposição da língua urdu para as populações falantes do bengali, fez emergir a Liga Awami, como voz política da insatisfação dos bengalis.
Na década de 1960 as manifestações aumentaram e o governo central proibiu a Liga Awami de assumir os seus lugares no parlamento, apesar de terem ganho a maioria e Mujibur Rahman o seu líder foi preso. A ofensiva militar do governo central causou inúmeras mortes, pelos métodos sangrentos utilizados. Mais tarde, Mujibr Rahman foi libertado depois da pressão dos Estados Unidos da América.
Em Maio de 1961 outra batalha pela língua bengali teve lugar em Silchar, onde 11 pessoas foram mortas pela polícia e o governo central teve de retroceder.
Seguiram 9 meses de guerra civil no então Paquistão, entre as duas partes, a oriental e a ocidental.
Todos estes acontecimentos originaram em 1971 a divisão do Paquistão em duas nações, o Paquistão (antiga parte do bengala ocidental) e o Bangladesh, assumindo a sua independência, ocupando a parte oriental do Bengala.
Assim, os bengalis, defendendo a sua própria língua, contribuíram para o nascimento do país que hoje conhecemos como Bangladesh.
O memorial dos Mártires do Dia Internacional da Língua Materna do Bangladesh, inaugurada em Dezembro de 2016, é uma versão, em menor escala, do Monumento Shaheed Minar que se encontra em Daca, capital do Bangladesh, produzido pelo escultor Hamidur Rahman.
Os mártires que deram a vida pela língua bengali, são recordados nesta Praceta da Rua Chã, na cidade do Porto, com eventos anuais, com a presença de convidados e entidades oficiais portuguesas.
Quando é que a língua foi única neste mundo? Sempre existirão diversas línguas, formando diversas nações, cada uma com os seus heróis, mas todos irmãos, vivendo num mundo cada mais global. Que as línguas não sejam motivos de separações, mas sim de concórdia e tolerância entre todos os povos. Muito obrigado pela vossa presença. Que Deus, Guia de toda a humanidade, vos acompanhe".
Wa ma alaina il lal balá gul mubin" "E não nos cabe mais do que transmitir claramente a mensagem". Surat Yácin 36:17.
Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu (Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus)
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