O Islão e o Cristianismo: duas religiões e um só Deus (Parte I) - Chinese Muslims

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2020年5月28日星期四

O Islão e o Cristianismo: duas religiões e um só Deus (Parte I)

Por: M. Yiossuf Adamgy

Prezados Irmãos,

Saúdo-vos com a saudação do Islão, "Assalam alaikum", (que a Paz esteja convosco), que representa o sincero esforço dos crentes por estender o amor e a tolerância entre as pessoas, seja qual for o seu idioma, crença ou sociedade.

Precisamos de aproximarmo-nos, cada vez mais, até que possamos nos encontrar e nos conhecer, plenamente A missão de todos os Mensageiros e Profetas de Deus (que a paz esteja com eles) é baseada numa pedra angular e num pilar bem fundamentado, que está a guiar a humanidade em direcção ao Criador do Universo; por isso, a humanidade deve acreditar e adorar a Deus para ser feliz nesta vida e levar uma vida virtuosa.

Além disso, os apóstolos de Deus enfatizaram a fraternidade de toda a humanidade, a criação de Deus, sendo Adão e Eva os pais ... e o critério da excelência é a justiça, a piedade e as boas acções. O Alcorão diz: " Ó humanos! Na verdade, Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em povos e tribos, para reconhecerdes uns aos outros. Sabei que o mais honrado, dentre vós, perante Deus, é o mais temente. Sabei que Deus é Sábio e está bem -inteirado." - (Alcorão, 49:13).

Como resultado da crença em Deus e na fraternidade dos seres humanos, a humanidade deve, necessariamente, viver uma vida de amor, concórdia, cooperação e paz. Todas as leis de Deus foram reveladas com o objectivo de enfatizar este tema. Os Profetas de Deus, em épocas diferentes, mostraram à humanidade que a religião de Deus é sempre a mesma, que os homens são irmãos íntimos, sem inimizade ou conflito entre eles, que o espírito de sua mensagem é sempre o mesmo, que Quem os criou foi Ele, o Uno, e que o fundamento de sua religião é só um, sem possibilidade de contradição ou diferença entre eles.

Para fixar essa ideia nas mentes e corações das futuras gerações, é preciso um tremendo esforço e muita cooperação dos intelectuais de todas as religiões reveladas. Esta é a doutrina que tenho propagado e pregado nos últimos 38 anos, porque esta é a chave para alcançar o estado de bem-estar para os seres humanos e para poder viver uma vida pacífica, sem malícia nem ódio.

Além disso, o Alcorão e a Bíblia testificam que as religiões reveladas não diferem nem na sua origem  doutrinária, nem nos seus objetivos para os seres humanos. O Alcorão diz: "Prescreveu-vos a mesma religião que havia instituído para Noé, a qual te revelamos, a qual havíamos recomendado a Abraão, a Moisés e a Jesus, (dizendolhes): Observai a religião e não discrepeis acerca disso; (Alcorão, 42:13) . Este texto, sem dúvida, é um testemunho de que a religião de Deus é a mesma, em todos os tempos e para todos os Profetas, e que Deus ordena aos Seus Profetas e à sua gente a unirem-se e a estarem de acordo e a não diferirem e separarem-se. No Alcorão existem muitos exemplos a este respeito, tais como: "Inspiramos-te, assim como inspiramos Noé e os Profetas que o sucederam; assim, também, inspiramos Abraão, Ismael, Isaac, Jacó e as tribos, Jesus, Jó, Jonas, Aarão, Salomão, e concedemos os Salmos a David." (Alcorão, 4: 163).

Assim, Deus revelou o mesmo em qualidade e conteúdo e é, por isso, que podemos dizer que todos os Profetas provêm da mesma fonte, ainda mais, é evidente que no Alcorão os muçulmanos são ordenados a acreditar em todos os Profetas de Deus e obedecer as suas ordens: “Dize: Cremos em Deus, no que nos tem sido revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaac, a Jacó e às Tribos; no que foi concedido a Moisés e a Jesus e no que foi dado a todos os profetas por seu Senhor; não fazemos distinção alguma entre eles, e nos submetemos a Ele". (Alcorão, 2: 136).

Qualquer um que leia o Alcorão pode ver que os capítulos mais longos do Alcorão enobrecem e dignificam Jesus e a Virgem Maria (paz esteja com eles). O Alcorão também menciona e esclarece alguns dos milagres de Jesus e narra milagres encontrados no próprio Evangelho, tais como pássaros feitos de argila que ele deu a vida através de uma respiração, com a permissão e ajuda de Deus, e Ele também menciona o facto de que Jesus falou com as pessoas do berço. Dois outros capítulos longos no Alcorão referem-se a Jesus: o primeiro é o da "Maria" e o segundo é "A família de Imran", que era a família de Maria. Nestes capítulos nos é dito como Maria deu à luz a Jesus (a.s.) e como foi uma concepção imaculada: "E quando os anjos disseram: Ó Maria, por certo que Deus te anuncia o Seu Verbo, cujo nome será o Messias, Jesus, filho de Maria, nobre neste mundo e no outro, e que se contará entre os diletos de Deus. Falará aos homens, ainda no berço, bem como na maturidade, e se contará entre os virtuosos". (Alcorão, 3: 45-46).

O Alcorão dirige-se aos Muçulmanos para mostrar, claramente, o alto posto que Jesus (a.s.) ocupa diante de Deus: “Ó adeptos do Livro, não exagereis na vossa religião e não digais de Deus senão a verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria, foi tão-somente um mensageiro de Deus e Seu Verbo, com o qual Ele agraciou Maria por intermédio do Seu Espírito…”. (Alcorão 4: 171).

Estas ideias, ou mais especificamente, estas crenças de que os muçulmanos são ordenados a acreditar em Jesus (a.s.), abrem o coração para os seus verdadeiros ensinamentos e facilitam a convergência e a cooperação entre muçulmanos e cristãos. O Alcorão mostra, claramente, que os cristãos são os mais próximos aos muçulmanos por causa da moralidade e virtudes que compartilham com eles: “… Constatarás que aqueles que estão mais próximos do afeto dos fiéis são os que dizem: Somos cristãos!, porque possuem sacerdotes e não ensoberbecem de coisa alguma. E, ao escutarem  o que foi revelado ao Mensageiro, tu vês lágrimas a lhes brotarem nos olhos; reconhecem naquilo a verdade, dizendo: Ó Senhor nosso, cremos! Inscreve-nos entre os testemunhadores!

E por que não haveríamos de crer em Deus e em tudo quanto nos chegou, da verdade, e como não haveríamos de aspirar a que o nosso Senhor nos contasse entre os virtuosos? Pelo que disseram, Deus os recompensará com jardins, abaixo dos quais correm os rios, onde morarão eternamente.

Isso será a recompensa dos benfeitores”. (Alcorão, 5: 82-85). Como resultado dessa atitude positiva do Islão em relação ao Cristianismo e ao Evangelho, muitos dos antigos cristãos foram motivados a expressar a sua crença e reconhecimento do Profeta (s.a.w.) Muhammad e da sua Mensagem. Alguns deles, inclusive, garantiram aos muçulmanos, apoio moral e financeiro para solidificar e espalhar o Islão como, por exemplo, o imperador da Etiópia (Abissínia) no sexto século depois de Jesus (a.s.), que pediu aos emigrantes muçulmanos que tinham chegado ao seu país, que lhe recitassem alguns versículos do Alcorão que falaram sobre Jesus e a sua fé. Tanto ele como os seus monges choraram e declararam que reconheciam que Muhammad era um Profeta e o imperador disse: "os ensinamentos de Muhammad e Jesus surgem de uma mesma fonte" e ao dizer isto não deixou o Cristianismo, pois o Islão não ordena aos cristãos ignorar os mandamentos e ensinamentos de Jesus (a.s.). O Alcorão, referindo-se aos cristãos, diz: “E depois deles (Profetas), enviamos Jesus, filho de Maria, corroborando a Tora que o precedeu; e lhe concedemos o Evangelho, que encerra orientação e luz, corroborante do que foi revelado na Tora e exortação para os tementes. Que os adeptos o Evangelho julguem segundo o que Deus nele revelou, porque aqueles que não julgarem conforme o que Deus revelou serão depravados”. (Alcorão, 5: 46-47).

O Profeta Muhammad (s.a.w.) disse: "Eu sou o mais próximo de todas as pessoas a Jesus, filho de Maria" e "Os Profetas são irmãos do mesmo pai, de mães diferentes, mas com uma só religião". E disse: "Muçulmanos! Conquistareis o Egipto; quando o fizerdes, sejais amáveis com os cristãos".

O quarto califa, Ali (r.a.), costumava dizer aos cristãos contemporâneos: "Nós não queremos evitar que acrediteis no cristianismo, mas sim, nós ordenamos obedecê-Lo", e há inúmeros exemplos como estes. Acaso não se demonstrou o mais alto grau de fraternidade, amor, afeição e colaboração quando o próprio Profeta Muhammad (s.a.w.) fez da sua Mesquita em Medina um lugar de adoração para os seus convidados cristãos? Não vos surpreendais quando inteirardes que os muçulmanos fizeram da Grande Mesquita Omíada, em Damasco, um templo comum para muçulmanos e cristãos, que entravam pela mesma porta, mas tinham a Mesquita dividida em dois e usavam para fazer as orações juntos; isso, quando Damasco era a capital do grande Estado Islâmico.

Esse foi o resultado inevitável da compreensão, proximidade e respeito que existia entre estas duas religiões reveladas naqueles tempos. Eles coincidiam em propósitos e objectivos, e não havia oposição na sua essência e origem. É bem conhecido, a este respeito, que Omar, o segundo califa, quando entrou em Jerusalém, recusou a oferta para fazer a oração no Santo Sepulcro, para evitar que os muçulmanos, no futuro, convertessem a igreja, ou qualquer parte dela, numa Mesquita; assim, conservou a sua santidade.

Muhammad (s.a.w.) ordenou que os muçulmanos fossem gentis com os judeus e cristãos, pois eles eram seguidores das duas religiões anteriormente reveladas. E disse: "Quem causar danos a um cristão ou a um judeu será meu inimigo no Dia do Juízo e vai pagar por isso". E ainda disse: "Sejais amáveis com os coptas". Quando o filho do governador do Egipto correu uma corrida de cavalos com um cristão copta e o cristão ganhou, o filho do governador, enfadado, golpeou-o com o seu chicote. Então o cristão copta levou o seu caso à Omar, na época de Hajj (peregrinação anual dos muçulmanos) e, na frente de todos os muçulmanos, Omar ibn al-Khattab (r.a.) deu o chicote para ao copta, dizendo-lhe: "golpeia o homem que te golpeou". Depois, Omar dirigiu-se a Amr, o conquistador do Egipto, dizendo-lhe: "Como se pode fazer escravo a alguém que nasceu livre?"

O Islão não parou por aqui no seu respeito pelas religiões reveladas; foi mais longe ao implantar amor e carinho nos corações dos muçulmanos, como por exemplo, o que aconteceu quando os idólatras persas derrotaram os cristãos bizantinos, derrota essa que os muçulmanos choraram; mas então o anjo Gabriel desceu, consolou os muçulmanos e trouxe as boas novas de que os cristãos venceriam em menos de nove anos. Isto é narrado num capítulo do Alcorão, intitulado "Os Romanos": "Alif, Lam, Mim. Os bizantinos foram derrotados, em terra muito próxima; porém, depois de sua derrota, vencerão, dentro de alguns anos; porque é de Deus a decisão do passado e do futuro. E, nesse dia, os crentes se regozijarão, com o auxílio de Deus. Ele auxilia a quem Lhe apraz e Ele é o Conhecedor, o Compassivo. "(Alcorão, 30: 1-5).

A profecia foi cumprida e os muçulmanos se alegraram com ela. O Islão, através de seus ensinamentos e princípios, tem conseguido converter milhões de descrentes em crentes de Deus, de Jesus e de todos os Profetas e testamentos revelados. O Alcorão conseguiu que muçulmanos e cristãos se abraçassem como irmãos que viviam em felicidade, cooperando uns com os outros.

Por que não podemos voltar a ver algo assim novamente, especialmente hoje em dia, quando o ateísmo envolveu a maior parte do mundo com suas trevas e injustiças e está se preparando para devorar o resto? É o momento oportuno de chamar, com viva voz, para um encontro entre os líderes religiosos e intelectuais, muçulmanos e cristãos, para conseguir que exista afinidade entre as almas de todos os seguidores das religiões reveladas e familiaridade espiritual e proximidade entre toda a humanidade sob o slogan: "Cooperação nos pontos de entendimento e tolerância nas diferenças".

Neste mundo de problemas e discórdia, não há necessidade de mais separação e discórdia. Por que não nos encontramos e alcançamos um ponto de compreensão mútua, clamando por caridade, piedade e virtude? Os cristãos dizem: "Ama a Deus, teu Senhor, com toda a tua alma e mente e ama o teu próximo como te amas a ti mesmo!". Muhammad (s.a.w.) disse: "Nenhum de vós será um verdadeiro crente até que não queira para o vosso irmão o que quer para si mesmo".

Jesus (a.s.) disse: "O misericordioso estará no Paraíso em virtude de sua misericórdia".  Muhammad (s.a.w.) disse: "Deus, o Misericordioso, será compassivo com todos aqueles que são misericordiosos; sejais misericordiosos na terra para receberdes a Sua misericórdia no céu."

Inclusive na doutrina sobre Deus, o Criador, Aquele que não tem igual, o Que não tem associados, é claramente ilustrado na Bíblia e no Alcorão. No Evangelho segundo São João, diz Jesus : "E esta será uma vida Eterna, em que só deverão conhecer-te a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus, a quem Tu enviastes."

E em São Mateus, lemos: "... diante do Senhor, do Teu Senhor te ajoelhaste e só a Ele adoras". Deus se dirige a Muhammad, no Alcorão, dizendo: "Dize: Ele é Deus, o Uno". (Alcorão, 112: 1) e "Saiba que não há outra divindade além de Deus" (Alcorão, 47:19).

Quando perguntaram a Jesus (a.s.) sobre o Dia do Juízo Final, ele disse: "Ninguém sabe em que dia ou a que horas chegará". O mesmo foi dito a Muhammad (s.a.w.) no Alcorão Sagrado: "Perguntar-te-ão acerca da Hora (do Desfecho): Quando acontecerá? Responde- lhes: O seu conhecimento está só em poder do meu Senhor e ninguém, a não ser Ele, pode revelá-lo; (isso) a seu devido tempo.... (Alcorão 7:187).

Existem numerosos exemplos na Bíblia e no Alcorão que mostram que as duas religiões concordam com a adoração do Único Criador Todo-Poderoso. É normal que existam diferenças de interpretação insignificantes, uma vez que existem até entre seguidores de uma mesma religião; tais diferenças não têm que impedir o compromisso, o acordo e a afinidade espiritual, em prol da paz, da fé e da humanidade em geral; isto é como um ramo de flores variadas que deslumbra e fascina quando é arranjado nas proporções adequadas.

A proximidade, nas origens e nos objetivos, de nossas duas religiões, têm encorajado a muitos estudiosos e teólogos, tanto muçulmanos como cristãos, a pregar a cooperação, o estudo e o diálogo entre o Islão e o Cristianismo, em prol da fé, da humanidade e da paz. Esta pedra angular levou o grande poeta cristão Halim Damous a dizer: "Por Deus, todas as religiões são simplesmente janelas através das quais aqueles que adoram, vêm a Deus .... A humanidade não discriminaria entre Muhammad e Jesus se ela entendesse a essência da sua religião.

Eu sinto a presença de Jesus no Alcorão e na Bíblia, e sinto o espírito de Muhammad". O poeta árabe Ahmad Shawqi disse: "A diversidade de religiões não deve levar à separação e hostilidade entre os seres humanos, nem entre os Livros revelados, nem entre os Profetas. Todas as crenças guardam em si a mesma sabedoria: a sua essência é o amor e temor a Deus, assim como tolerância".

Acaso não nos incumbe a nós, crentes das religiões reveladas, encontrar e cooperar, tal e como os nossos Profetas se encontram nos seus ensinamentos e ordens?

Acaso não é o momento de que todos os líderes religiosos se levantem numa revolução espiritual para rejeitar o fanatismo e a estagnação e para pregar o afeto, a fraternidade e uma convivência pacífica?

Acaso não deveríamos nos esforçar para construir um novo mundo espiritual para a humanidade, baseado na integridade, na nobreza e num verdadeiro bem-estar?

Os políticos e diplomatas que criaram as Nações Unidas e o Conselho de Segurança, levam a cabo um número infinito de conferências e aconselhamentos sobre o desarmamento, o perigo das armas nucleares e estratégicas, que se usassem uma só vez não deixaria uma única criatura viva sobre a terra; mas a humanidade alcançou a paz desejada? As fomes, a miséria e as guerras acabaram? O homem parou de  inventar armas de destruição em massa? Será que não podem os teólogos e líderes religiosos contribuir, de forma significativa, para a compreensão de que Deus e os Seus Profetas não ordenam nada, exceto a fraternidade, a paz e a afeição entre toda a humanidade e que a maldade e a hostilidade são detestadas pelos Profetas ? (Continua, na próxima reflexão, in cha Allah (se Deus quiser).

Obrigado. Wassalam (Paz).

M. Yiossuf Adamgy

Diretor da Revista Islâmica Portuguesa Al Furqán

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