Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu. Bismilahir Rahmani Rahim.
Fui convidado pelo Município de Guimarães (Portugal) para participar numa conferência acerca da sustentabilidade. Cada um dos palestrantes ficou com a responsabilidade de explicar o que os seus textos sagrados referem acerca deste importante tema, respondendo à pergunta: “Deus é Ecológico?” Segue o teor da minha intervenção:
MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES,
ASSALAMO ALEIKUM
Esta é a saudação dos muçulmanos que significa “A Paz de Deus esteja convosco”. Utilizamos esta expressão, para saudarmos os nossos irmãos de fé. Saudamos tantas vezes quantas as que encontrarmos com o mesmo irmão ou irmã e no mesmo dia. É uma forma de aumentarmos a harmonia e amizade entre nós.
Em nome do Centro Cultural Islâmico do Porto, agradeço à Câmara Municipal de Guimarães a oportunidade concedida para participarmos nesta tertúlia, no âmbito do Plano Municipal para a integração de migrantes.
Está a decorrer a Ciméria do Clima em Madrid. A escolha deste tema para a tertúlia, é uma oportunidade para refletirmos em conjunto a importância e a urgência dos países encontrarem um consenso comum para se travar a utilização indevida dos recursos naturais, com vista a atenuar as alterações climatéricas. Vamos então tentar responder á pergunta se “Deus é Ecológico”.
O Islão é uma religião monoteísta, cujo tronco comum é o Profeta Abraão. A nossa crença é baseada na Unicidade de Deus. Acreditamos nos Profetas do Judaísmo e do Cristianismo e no último Profeta Muhammad, que a Paz de Deus esteja com todos eles. Não fazemos distinção a nenhum deles.
O Islam é uma religião universal, atualmente com mais de um bilião e quatrocentos milhões de seguidores.
A Religião é o Islão e os seguidores são os muçulmanos e não de islamitas como outros nos chamam. Muçulmano significa ser submisso a Deus Único. Ser muçulmano é viver em Paz com o Criador, em Paz consigo próprio, em Paz com o próximo e em Paz com a natureza. Louvamos e agradecemos a Deus tudo o que nos concedeu para facilitar a nossa passagem curta por este mundo.
O Islão destaca a importância do meio ambiente, a proteção e a conservação dos recursos naturais. Os meios da natureza, a terra, o ar, a água, o fogo, a floresta e a luz, são bens comuns pertencentes não só à humanidade, como também a todos a outros seres vivos. O ser humano é o Khalifa, isto é, é o representante de Deus na terra e tem a obrigação de utilizar os recursos naturais da terra e os preservar para as futuras gerações. O Alcorão determina que a conservação do meio ambiente é um dever religioso e social e não opcional. O Alcorão refere a terra por mais de 60 vezes.
A moderação é um princípio estabelecido pelo Alcorão para todos os aspectos da vida do muçulmano. Os textos sagrados referem o equilíbrio na criação da terra e de tudo o que nos rodeia. O homem deve tomar todas as precauções para que esse equilíbrio não seja afetado e que os direitos de todos, incluindo os direitos dos outros seres vivos não sejam prejudicados. O Alcorão condena o consumo desnecessário e exagerado, como por exemplo, o desperdício da água e o consumo exagerado de alimentos e de outros bens que conduzem à degradação do meio ambiente. E Deus refere que não ama os que exageram nos gastos e os que se desviam.
O privilégio da exploração dos recursos naturais, foi concedido ao homem pelo Criador, a título de empréstimo. É como tomar por arrendamento uma propriedade pertencente a outro, com a promessa de que a deveremos preservar, não destruir ou danifica-la. O conceito islâmico da utilização dos recursos naturais é o da durabilidade. O homem sendo uma espécie de tutor, deve tomar todas as precauções para a entregar ao próximo, de modo que a utilização continue até ao final dos tempos.
Todo o tipo de corrupção, não só a econômica, também a ambiental, que inclui a poluição industrial, danos ambientais, utilização imprudente e má gestão dos recursos naturais, não são amados pelo Senhor, o Criador e Sustentador dos mundos. Refere o Alcorão. “E não causeis corrupção na terra depois dela ter sido pacificada”. 7.85.
Na altura do Profeta Muhammad, que a Paz de Deus esteja com ele, para proteção das terras, das florestas e da vida selvagem, foram instituídas zonas denominadas de Haram e de Hima. Nesses locais foram estabelecidas importantes leis de proteção da natureza. As Palavras Haram e Hima referem-se a zonas protegidas e com a proibição de praticar certos atos que possam prejudicar o ecossistema. As áreas Haram foram traçadas à volta dos poços e fontes de água para proteger os caudais subterrâneos e do consumo excessivo do precioso líquido. As Hima referem-se às áreas destinadas à vida selvagem e à silvicultura, onde foram criadas zonas de pasto, terras agrícolas, cortes de madeira e proteção de animais especiais. Foram criadas zonas proibidas de caça ao redor da cidade de Madina. Eram zonas invioláveis com a intenção de uso sustentável dos recursos naturais e da proteção da vida animal e das terras agrícolas.
A Sharia, a jurisprudência islâmica, é um conjunto de leis islâmicas baseadas no Alcorão, nas tradições do Profeta Muhammad, analogia e no consenso dos juristas. A Sharia incentiva os governos para tomarem medidas legais contra pessoas ou organizações e mesmo contra outros estados, quando considerados culpados de provocarem danos ambientais.
É estimulada a plantação de árvores de fruto ou simplesmente destinados à sombra. Sobre este aspecto, disse o Profeta Muhammad: “Se um muçulmano plantar uma árvore ou semear (algo) e depois um pássaro ou um animal vir a comer dos seus frutos, isto será considerado um presente de caridade da parte dele”. Bukhari. Toda a caridade será recompensada. A devastação das árvores foi proibida e a destruição das culturas foram proibidas, mesmo em tempos de guerras.
O Profeta também referiu que se estivermos a um passo final da nossa existência e portadores duma semente ou de um rebento duma planta na nossa mão, deveremos plantá-la. E disse também: “Quem plantar uma árvore e cuidar dela diligentemente até que ela cresça e dê frutos, será recompensado”.
No Alcorão, Deus compara uma boa palavra a uma árvore: “Não reparas como Deus exemplifica? Uma boa palavra (pura) é como uma árvore nobre, cuja raiz está profundamente firme e os ramos se elevam ao céu”. Cur’ane 14:24
A água é o símbolo de pureza e fonte da vida. Sem água não há vida. O corpo humano é composto por cerca de 70% de água. Deus refere no Alcorão: “…. E criamos todos os seres vivos da água….” Cur’ane 21:30. A água acompanha o crente, no seu nascimento, na sua vida, na sua morte e na vida após a morte. Quando ouvimos as palavras “as águas rebentaram”, elas anunciam que um novo ser está para nascer. Uma nova vida vai iniciar!
O ser humano tem a obrigação de preservar a água, este líquido precioso, não só para si, como também para todos os outros seres vivos. A água tem um papel fundamental no cumprimento dos nossos rituais religiosos, ao ponto de compararmos a higiene, à metade da fé. As fontes, as cisternas e os banhos públicos são comuns em todas as cidades muçulmanas. Na cidade de Silves (Portugal) e outras cidades onde passaram os muçulmanos, podemos ver as antigas e grandes cisternas destinadas ao armazenamento de águas para o abastecimento das populações.
Desde o aparecimento do islão e até hoje, uma das contribuições de caridade é a cedência e construção de poços de água, para consumo dos mais
necessitados. Os ensinamentos do Profeta referem; “As ações do homem chegam ao fim com a sua morte, porém, a recompensa das ações mantêm-se com uma escola que tenha construído ou tenha deixado um poço de água que possa beneficiar pessoas e animais”.
A água da chuva, a água dos rios e a água das fontes, correm pelas páginas do Alcorão e nos ensinamentos do Profeta, transmitindo aos crentes a benevolência de Deus para com os Seus servos. A água foi o primeiro elemento criado, conforme refere o Alcorão: “E Ele criou os céus e a terra em 6 dias, quando antes, abaixo do Seu Trono, só havia água.” 11:7
A água pura é a que vem diretamente dos céus, através da chuva, da neve e do granizo. Refere o Alcorão: “Ele é Quem envia os ventos alvissareiros, mercê da Sua Misericórdia; e enviamos do céu água pura”. Cur’ane 25:48.
Rumi, um dos eminentes poetas sufis, referiu acerca da água: “Ele chegou…. Chegou aquele que nunca partiu; Esta água nunca faltou a este riacho; Ele é a substância do almíscar e nós, o seu perfume; Alguma vez se viu o almíscar separado do seu cheiro?”.
Infelizmente, os rios, riachos, lagoas e outros reservatórios naturais de águas, estão a ser contaminados pela ação do homem.
O planeta está a sofrer sérios danos, devido às consequências dos exageros do ser humano. O homem está destruindo a terra. Se não estamos a tempo de recuperar o que foi perdido, pelo menos tentemos parar ou minimizar a catástrofe que se avizinha. Estamos a caminhar alegremente para o abismo!
A utilização excessiva do petróleo e do carvão e a utilização indevida e abusiva dos recursos da terra, estão a criar graves problemas ambientais. A Organização das Nações Unidas incentiva todos os países para criarem condições para a utilização das energias renováveis, através do vento, das ondas do mar e do sol. Estas são as dádivas da natureza e é preciso saber aproveitá-las.
Apenas atrás da Suécia, Marrocos é o segundo país mais sustentável do mundo. Apostando no futuro que se avizinha, Marrocos lançou a primeira fase da maior central de energia solar do mundo, que irá reduzir a dependência do petróleo em cerca de 2,5 milhões de toneladas de petróleo e reduzir as emissões de carbono em 760.000 toneladas ano. Marrocos está na linha da frente na produção da energia alternativa, através do aproveitamento do sol. O objectivo é de que em 2030 mais de 50% da energia seja proveniente de fontes renováveis. Outros países do deserto, com abundantes recursos solares, estão a seguir o seu exemplo, aproveitando a dádiva do sol, que “queima” todos os dias do ano.
Deus deixou-nos importantes orientações para o planeta ser utilizado convenientemente em sistema de arrendamento por gerações após sucessivas gerações.
No entanto, estamos a assistir às consequências da má utilização que estão a pôr em causa a sobrevivência de todos os seres vivos. E não foi por falta de alertas.
“Wa ma alaina il lal balá gul mubin" "E não nos cabe mais do que transmitir claramente a mensagem". Surat Yácin 36:17. “Wa Áhiro da wuahum anil hamdulillahi Rabil ãlamine”. E a conclusão das suas preces será: Louvado seja Deus, Senhor do Universo!”. 10.10.
Cumprimentos
Abdul Rehman Mangá - www.abdulmanga.com 11/12/2019
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